msdm a nomadic house-studio-gallery for photographic art and curatorial research, an expanded practice of the artist's book, photobook publishing and peer-to-peer collaboration created by contemporary artist paula roush
TITLE WORK: Paintball Field AUTHOR: paula roush
TITLE WORK: PAINTBALL FIELD
AUTHOR: paula roush
MEDIUM: Photoprints
printed with a Monochrome Océ Laser
on Xerox Bond paper
shot with paintball gun (two tones) by GBH
118.9 x 84.1 cm each print
TITLE EXHIBITION: Aproximar-‐nos do Caos
[com umas lentes que permitam ver melhor o que isso é]
PROJECT BY: Escola Informal de Fotografia
CURATORS: Ana Couto, Arlindo Pinto, Dora Pinto, Fátima Lopes, Fernando Alves, Paula Arinto e Rui Esteves [assistência]
ARTISTS: Ana Botelho, Carlos Dias, Elsa Figueiredo, João Vasco, Leonor Duarte, Mário Azevedo, Raul Salas e Sofia Pereira Santos
GUEST ARTISTS: Ana João Romana, João Paulo Barrinha, Ludmila Queirós e paula roush
GALLERY: Galeria ACERT, Tondela
DATE: May- Jun 2019
CATALOGUE: Aproximar-nos do Caos
[com umas lentes que permitam ver melhor o que isso é]
[PDF download 14MB]
ESSAY: Aproximar-nos do Caos
[com umas lentes que permitam ver melhor o que isso é]
[PDF download 141KB]
INVITE: Aproximar-nos do Caos
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REVIEW:
A. Bracons, AAVV, Aproximar-nos do Caos
[com umas lentes que permitam ver melhor o que isso é]
in Fascinio da Fotografia, 8 de Maio de 2019
ABOUT THE WORK
Arlindo PInto extract from curatorial essay
Recuando momentaneamente até às primeiras representações gráficas realizadas pelo homem – as pinturas rupestres – podemos invocar provas documentais da utilização de máscaras desde os nossos primórdios, remontando o seu uso à representação de cabeças de animais em rituais primitivos, provavelmente, para invocação de algum poder misterioso.
Parece hoje seguro afirmar que alguma arte contemporânea bebeu nas fontes da arte primitiva africana e pré-colombiana. Por exemplo, Pablo Picasso, na primeira pintura cubista, Les Demoiselles d’Avignon, apresenta personagens que possuem máscaras africanas no lugar dos rostos. Segundo Carol Strickland, no seu livro “Arte Comentada Da Pré-Historia Ao Pós-Moderno”, publicado em 1999, muitos outros artistas e movimentos de ruptura foram afectados pela arte das máscaras das sociedades pré-industriais.
O que une as obras “The true face” de Ana Botelho e “Paintball field” de paula roush, aqui apresentadas, e que, nas suas múltiplas acepções, simultaneamente as separa, “é a antítese da face humana, em alguns dos inúmeros significados que lhe são atribuídos: a máscara”. A máscara, física ou psicológica, - esse outro eu – que permite ao seu utilizador, o mascarado, dissimular a sua identidade, transformando a sua aparência, através da sua evidente função de adaptação social.
Na obra, agora aqui exposta, paula roush criou “um cenário de batalha onde uma criatura surreal com uma máscara de cortiça - a mesma usada nas aldeias durante o carnaval - parece ser caçada pelos outros jogadores.” Segundo a autora, que compara dois tempos, o das aldeias montanhosas agora abandonadas (um tempo-menos-presente) e um tempo tecnológico (um tempo-mais-futuro), em “Paintball Field”, “a presença da máscara transfere o tempo [...] para um tempo mais etnográfico associado à condição cultural primitiva e “crua”, com todas as conotações de apropriação e mistificação da chamada “cultura camponesa” que resultou na sua colonização”. A máscara, e a de Carnaval em particular, permite ao personagem perder a sua individualidade quotidiana e experimentar um sentido elevado de unidade social ou colectiva. “Paintball field”, enquanto jogo de disfarces, ironiza o jogo da guerra e expõe, segundo a autora, “a glorificação da morte implícita na narrativa do jogo”. Contudo, neste jogo, além da referida criatura, todos os outros intervenientes usam máscara. É, na verdade, um jogo de máscaras - a máscara como artefacto para resguardo do rosto em situações de guerra.
Sendo certo que apenas a criatura, protagonista da acção, usa a máscara carnavalesca, a verdade é todos os intervenientes no jogo usam a máscara como mecanismo de defesa e ocultação. Todos desempenham um papel, numa outra pele e identidade - a de caçadores e de presa, como num conflito real.
Na guerra perde-se a individualidade e estabelecem-se regras indiscutíveis de formação de um corpo colectivo. A guerra despersonaliza, a máscara uniformiza, impede a distinção, impossibilita o (re)conhecimento do sujeito, tornando todos numa espécie de soldado desconhecido mas ao qual se reconhecem as qualidades que cada membro do grupo é suposto ostentar. A máscara anula o individuo e legitima o grupo e as suas acções, a coberto do anonimato, e essa é uma das premissas obrigatórias do conflito.
A máscara, em contexto de guerra, exige que a personalidade do sujeito não interfira nas suas acções ou no que elas representam. Joel Peter-Witkin usou máscaras, em muitas das suas obras fotográficas, a fim de evitar que a personalidade do sujeito interferisse no significado da imagem que criava.
Em “The Mask Series”, Inge Morath e Saul Steinberg usaram máscaras para libertar o sujeito da sua identidade social, vestindo-o de anonimato, embora criando outras personagens. Citando Michel Butor e Harold Rosenberg, no livro “Saul Steinberg, Le Masque” - “Uma máscara representa o modo como as pessoas querem aparecer, o que elas querem ser. A vida da pessoa humana poderia dividir-se em duas partes: a sua vida emocional, física, íntima, e a sua vida política e mundana, na qual vê outras pessoas e em que tem que aparecer constantemente sob uma forma esperada. A pessoa deveria ter sempre a mesma cara e a mesma expressão de modo a transmitir segurança às pessoas com quem se encontra. As pessoas ficam em pânico se alguém já não se parece com o que era, se perde peso ou se engorda.” [ tradução livre a partir do original, em francês ]
“Paintball field” sugere, para além da ironia subjacente, uma séria reflexão sobre as acções humanas, tendo na guerra um gatilho do Caos e um pressuposto de desumanização.
“The true face” de Ana Botelho e “Paintball field”, de paula roush, abordando o uso da máscara em contextos distintos, estão ancorados em palavras-chave como guerra, alteridade e ilusão. Qualquer uma delas caminha lado a lado com o Caos e, se houvesse lente que permitisse ver melhor o que isso é, seria, sem dúvida, a clarividência dos humanos.
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